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Do interior de São Paulo à Serra do Rio do Rastro a bordo de um Fiat Coupe 1995

Atualizado: 12 de jan. de 2021

O mercado de carros colecionáveis vem crescendo a cada ano e com esse crescimento vem à tona uma discussão bastante acalorada sobre a forma de utilização desses veículos. Afinal, quando se tem um colecionável na garagem, você deve usá-lo normalmente ou deixá-lo como peça decorativa, valorizando pela baixa quilometragem? No meu caso, escolhi a primeira opção.


Desde que comprei o Fiat Coupe a minha ideia foi a de rodar o máximo possível com ele. "Carro parado não conta história", já dizia o velho ditado. E contar histórias e colecionar memórias sempre foram o meu maior objetivo com o meu sonho de infância.



Apesar de os planos serem bastante ambiciosos, incluindo viagens para fora do Brasil, era preciso iniciar por baixo, fazendo alguns testes ainda em terras tupiniquins. Depois de analisar várias possibilidades de roteiro, a primeira grande viagem com o Coupe acabou parecendo bastante óbvia: conhecer a estrada mais bonita do Brasil, a famosa Serra do Rio do Rastro. No total, seriam quase 2.200 km de São Carlos, interior de São Paulo, até a temida estrada na serra catarinense.



Preparativos.


Como todo carro antigo, o Fiat Coupe exige alguns cuidados especiais antes de encarar uma aventura dessa magnitude. Além das revisões óbvias, como troca de fluidos e revisão no freio e suspensão, o carro ficou uma semana no mecânico verificando qualquer problema mecânico que pudesse causar algum estresse na estrada: parafusos apertados, correias tensionadas, suportes verificados. Depois, mais um dia no auto elétrico apenas para testar os itens essenciais.


Feitas as revisões, que no fim acabaram por ser apenas preventivas já que não havia nada de errado com o carro, iniciei os preparativos para a viagem em si. Na bagagem incluí itens como fluidos (óleo do motor, freio e direção hidráulica), líquido de arrefecimento, mala de ferramentas, abraçadeiras, cabos de vela, tampa do distribuidor, cabo de chupeta... Não é fácil viajar com um carro antigo!


Assim, com tudo aparentemente em ordem, era o momento de iniciar a primeira grande jornada do Coupe.



Roteiro.


Selecionar o roteiro para essa primeira viagem acabou por não apresentar grandes dificuldades. De São Carlos (SP) seriam percorridos aproximadamente 600 km até Curitiba (PR), onde passaria a primeira noite. No dia seguinte o objetivo seria rodar mais 300 km até Florianópolis (SC), onde dormiria para subir a Serra do Rio do Rastro (SC-390) no terceiro dia de viagem. Após a subida da serra o plano era retornar a Florianópolis e no dia seguinte regressar a São Carlos.



O Rastro da Serpente.


Dentro do roteiro estabelecido, a única dúvida que persistia se dava quanto ao caminho de São Carlos (SP) até Curitiba (PR), já que são muitas as possibilidades.


O caminho principal e mais lógico seria ir até São Paulo pelas rodovias SP-310 (Washington Luis) e SP-348 (Rodovia dos Bandeirantes) e seguir pela BR-116 (Rodovia Regis Bittencourt) até Curitiba. Apesar de bela, a BR-116 possui trechos de trânsito bastante carregado, um número bastante considerável de caminhões e inúmeras reduções de velocidade seguidas de fiscalização por radar nos trechos de serra. Isso tornaria a viagem um pouco menos emocionante do que o plano original.


E, se é pra ter emoção, só um caminho pode ser seguido para quem quer ir ao Paraná: o Rastro da Serpente.


O Rastro da Serpente é formado por 260 km e mais de 1.200 curvas.

Formado por trechos das Rodovias SP-250 e BR-346, o Rastro da Serpente é uma estrada sinuosa que liga o Estado de São Paulo ao Paraná, iniciando-se no município de Capão Bonito (SP) e com término em Curitiba (PR). Ao todo são aproximadamente 260 km e mais de 1.200 (é isso mesmo!) curvas de todos os tipos, o que tornam a viagem ao mesmo tempo emocionante, desafiadora e incrivelmente cansativa!


Placa do Rastro da Serpente

Na cidade de Apiaí encontra-se o marco do Rastro da Serpente, um ponto de encontro de motociclistas das mais diversas regiões do país que se deslocam até lá para se aventurar nas curvas dessa estrada surpreendente.


Durante o percurso recomenda-se atenção redobrada, pois a existência de muitos motociclistas e alguns caminhões somadas a belas paisagens que nos convidam frequentemente a parar para dar uma olhada ou tirar algumas fotos, podem tornar o trajeto um pouco mais perigoso do que o normal. Como todo o trecho sinuoso é formado por curvas em sua maioria "cegas", não é raro você se deparar com um caminhão mais lento na saída de uma curva. Portanto, durante o percurso pelo Rastro da Serpente divirta-se, mas sempre com responsabilidade.


No alto da serra a vista é recompensadora e uma parada obrigatória, seja para tirar fotos, seja para dar um descanso para o estômago após as infinitas curvas.


A vista do alto da serra é parada obrigatória.

Mas chega de falar dessa linda estrada, que deveria ser um destino obrigatório para qualquer amante de carro, para falarmos do que realmente importa: como o Coupe se portou durante esse trajeto?


Divisa de Estado - SP/PR

Eu sinceramente não poderia estar mais satisfeito. Achei que pela idade o carro sofreria um pouco ao encarar um trecho sinuoso tão longo de subidas e descidas, mas a verdade é que o Coupe tirou de letra essa primeira fase da viagem.


A estrada deve ter sido recapeada recentemente, pois relatos de alguns anos atrás davam que a partir de Apiaí o asfalto estava bastante deteriorado. Por sorte não foi essa a realidade que enfrentei, já que todo o trecho estava com asfalto liso e em perfeitas condições, o que convida a acelerar um pouco mais nas belas curvas. Mas repito, toda atenção é pouco.


Passados alguns quilômetros, entramos no Estado do Paraná na divisa entre as cidades de Registro (SP) e Adrianópolis (PR), seguindo direto para Curitiba, finalizando o incrível trajeto do Rastro da Serpente.



Encontro no Beto Carrero World.


O segundo dia de viagem iniciou-se com um grato convite: encontrar alguns amigos proprietários de Fiat Coupe no caminho entre Curitiba e Florianópolis.


O trajeto entre as duas capitais é bastante curto, cerca de 300 km, todo feito através da BR-101. O único ponto de atenção nesse trecho são as inúmeras reduções de velocidade na descida da serra, com radares de 60 km/h espalhados para todo canto. Isso acaba tornando o percurso um pouco exaustivo, apesar da beleza indiscutível da estrada.


Combinamos de nos encontrar em um posto de combustíveis no município de Balneário Piçarras onde tomamos um café e seguimos em comboio para Penha, onde tiraríamos algumas fotos em frente ao Beto Carrero World, o maior parque temático da América Latina e um dos parques de diversão mais bem conceituados do mundo!

Os Coupes se tornaram a principal atração do Beto Carrero World.

É como dizem: mesmo que se viaje sozinho, você nunca está sozinho. As amizades feitas no caminho são talvez a parte que eu mais gosto dessas pequenas loucuras que faço de vez em quando. Já deixo aqui o meu abraço para os amigos catarinenses que me recepcionaram tão bem nesse dia!


Seguindo para Florianópolis o Coupe passou por um teste bastante rigoroso entre os municípios de Itajaí e Balneário Camboriú: o costumeiro trânsito praieiro de final de ano. Como o próprio Fiat Coupe já tem um histórico de problemas com temperatura e o meu carro especificamente já teve alguns percalços, fiquei com receio de o sistema de refrigeração não aguentar o trânsito caótico, praticamente parado, entre as duas cidades.


Porém, para minha tranquilidade, em momento algum o carro demonstrou qualquer problema relativo à temperatura, e chegamos sem maiores problemas em Florianópolis para passar a noite.



A estrada mais bonita do Brasil - Serra do Rio do Rastro.


O terceiro dia se iniciou com tempo aberto em Florianópolis, o que me animou a acordar bem cedo e partir para o destino final dessa jornada.


De Florianópolis até o pé da Serra do Rio do Rastro, no município de Lauro Müller, são aproximadamente 200 km, sendo a maioria rodados na própria BR-101 sentido Porto Alegre. No município de Tubarão desvia-se para uma estrada secundária (SC-390) até Lauro Müller, onde se inicia a subida da mais espetacular estrada brasileira.


BR-101 entre Florianópolis e Tubarão.

O trecho da BR-101 até Tubarão não tem grandes novidades, sendo a rodovia inteiramente duplicada e sem paisagens de tirar o fôlego, apesar de bastante belas.


Um ponto interessante na estrada é a ponte que atravessa a Lagoa do Imaruí, uma belíssima obra de engenharia, bem como uma solitária turbina de geração de energia eólica visível da estrada. Confesso que foi a primeira vez que vi uma dessas e me espantei com o seu tamanho e a sua imponência.


Após sair da BR-101, percorre-se mais 50 km pela SC-390 até o município de Lauro Müller. Esse trecho é formado por uma estrada com paisagens bonitas e relativamente bem conservada, chegando-se ao pé da Serra do Rio do Rastro.


Lauro Müller/SC

Ante de ir para a serra é indicado verificar se estará aberta no dia em que pretende fazer a visita. Eu, particularmente, não sabia dessa necessidade e fui pego de surpresa com algumas placas indicando que a serra estaria fechada naquele dia. Por sorte não passou de um susto, já que em momento algum houve qualquer bloqueio. Aproximadamente às 9h da manhã eu iniciava o ponto alto da viagem, a subida da Serra do Rio do Rastro!


Quando iniciei a subida da serra já era perceptível que o clima não estaria a meu favor e provavelmente não seria possível contemplar a maravilhosa vista do mirante localizado no alto da serra. Porém, como diria Steve Jobs, "a viagem é a recompensa", ou seja, o destino final é apenas um detalhe. Depois de tudo o que passei e vivi até aquele momento, não seria a neblina que iria me desanimar!


Subida da Serra do Rio do Rastro - A neblina já dava o tom de como seria a vista do mirante.

E a estrada é, sim, tudo o que dizem. Para falar a verdade, enquanto eu fazia aquelas curvas absurdamente fechadas, com um paredão soltando pedras à minha esquerda e um precipício à minha direita, tudo o que eu pensava era: "quem teve a ideia de construir uma rodovia assim só podia estar louco". E ainda bem que num mundo tão chato, os loucos existem.


Toda a subida da serra possui ínfimos 12 km de extensão mas com incríveis 284 curvas. E nesses 12 km você entende o porquê de a estrada ser considerada uma das mais incríveis, belas e desafiadoras estradas do mundo. São 12 km onde você não consegue respirar, seja pelas curvas insanas, seja pela paisagem que te brinda a cada quilômetro rodado. A vontade é de parar em cada mirante e simplesmente agradecer por aquela estrada existir e por ter a sorte de estar dirigindo nela.


284 curvas em 12 km de extensão

Durante a subida o ideal é ir com cautela e sem pressa. As curvas são fechadas a ponto de você fazê-las em primeira marcha às vezes e completamente cegas, ou seja, é muito provável que você se depare com algum veículo logo na saída da curva. Portanto invadir a pista da descida está fora de cogitação!


No dia em que subi a serra, talvez pelo clima nada convidativo, a estrada estava bem vazia. Poucos motociclistas, motoristas e ciclistas se aventuraram naquele dia. Caminhões? Só encontrei com um e que acabou não prejudicando em nada a subida já que parei em um mirante logo que cheguei nele.


No alto da serra existe um mirante em que é possível ver grande parte da estrada esculpida na encosta da montanha. Infelizmente, para minha tristeza, a única coisa que consegui ver foi isso aqui:


Mirante da Serra do Rio do Rastro

Até esperei por alguns momentos para ver se o clima melhorava, mas ao invés disso piorou. Uma chuva forte começou a cair e iniciei o trajeto de volta para Florianópolis. Descer a serra na chuva é uma tarefa bastante tensa em que o motorista acaba não aproveitando nada, totalmente focado em fazer cada uma das curvas da melhor maneira possível dada a baixíssima visibilidade.


O caminho de volta após Lauro Müller acabou sendo tranquilo e sem maiores dificuldades. No dia seguinte iria iniciar o retorno para casa com o sentimento de missão cumprida. O Coupe, que não cansa de me surpreender, conseguiu vencer a famosa Serra do Rio do Rastro!



A volta para casa - 900 km em um dia.


A ideia inicial de trajeto de volta para casa era dormir mais uma noite em Curitiba e voltar para São Carlos somente no dia seguinte, para não fazer um trecho tão longo com o Coupe. Porém, o carro estava tão bom e me passando tanta confiança que resolvi encarar o desafio de rodar 900 km em um dia.


Saí de Florianópolis às 6h da manhã e peguei a BR-101 Norte rumo a Curitiba. O trajeto de volta, dado que seria direto, necessitaria ser feito pela rota mais rápida, ou seja, em Curitiba pegaria a BR-116 até São Paulo e de lá o costumeiro caminho para casa, via Rodovia dos Bandeirantes e Washingon Luis.


BR-116 - Rodovia Regis Bittencourt

A subida da serra pela BR-101 padece do mesmo problema da descida, ou seja, inúmeras reduções de velocidade por todo o trecho. Já a BR-116 é um pouco mais convidativa, ao menos até chegar nas proximidades da cidade de São Paulo.


Isto porque o trecho de serra entre Itapecerica da Serra e São Paulo também é recheado de radares e reduções abruptas de velocidade, então é bom o motorista estar sempre atento para não ser surpreendido quando chegar em casa.


Finalmente, cheguei em São Carlos às 17h sem qualquer contratempo, finalizando uma viagem épica com um Fiat Coupe 1995 até a estrada mais bonita do Brasil!



RESUMO DA VIAGEM.


Total de quilômetros rodados: 2.161 km

Consumo médio: 12 km/L

Preço médio da gasolina (dez/2020): R$ 4,30

Pedágios (dez/2020): R$ 147,10

Qualidade das estradas (dez/2020): Boa

Rede de postos nas estradas: Boa

Principais destaques: Rastro da Serpente (SP-250/BR-346), Serra do Rio do Rastro (SC-390) e Rodovia Regis Bittencourt (BR-116) até a chegada em São Paulo.

 
 
 

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